A Escola não faz o que eu quero



A Escola não faz o que eu quero
Autora: Tania Zagury (*)

Não há no mundo quem conheça melhor as necessidades de um filho do que pai e mãe. Por isso, análises sobre crianças devem considerar o que pensam os pais. Sim, ouvir os pais já salvou muitas crianças de sérios problemas, como atestam depoimentos de profissionais de várias áreas – medicina, inclusive. Mas essa sensibilidade, se levada a extremo, pode se tornar fonte de enganos. Há situações em que o melhor é refrear o coração, porque se deixarmos que apenas ele seja o balizador de decisões que envolvem filhos, talvez ao invés de ajudar a quem tanto amamos, os estejamos prejudicando.

É o caso da escola, por exemplo, que merece alguns cuidados para que as crianças não percam a confiança nos professores, o que não é nada difícil de acontecer. Basta que se comentem negativamente as decisões pedagógicas ou que se deixe perceber discordâncias para que, especialmente as crianças mais novas, se tornem hesitantes em relação à credibilidade de que os docentes tanto precisam para bem realizar seu trabalho. É claro que enganos eventuais podem existir– como em qualquer área profissional. Ninguém é infalível. Se, portanto, surgirem dúvidas, dirigir-se, de forma direta e franca, à escola é a atitude adequada, evitando assim, desabonar a instituição, sem sequer ouvi-la antes. Existe uma tendência por parte das pessoas, em achar que o que pensam ser o melhor para seus filhos em termos de ensino, deve ser acatado pela escola.

Seja quanto à metodologia, currículo ou outro aspecto qualquer, é cada vez maior a pressão para que a escola faça o que a família quer, numa clara demonstração de que confunde participação com injunção.

Recentemente um amigo me disse que “não se conforma com o fato de que a escola do filho, de quatro anos, não usa caderno de caligrafia”. A intenção é positiva; mas verdade é que, hoje, quem milita na área educacional e tem formação específica sabe que escrever “com letra bonita e legível”, vantagens que se pensava haver em relação ao tal caderno de que meu amigo tanto gosta, foram descartadas por estudos modernos. Há fundamento na decisão da escola, portanto.

Por outro lado, evitar o uso precoce de tablets e celulares, pelos reconhecidos problemas que traz, é ignorado. Por que será que os pais não confiam na escola? Sabendo que, em se tratando do ensino privado, a escolha é livre e calcada no que a família considera ser o mais adequado melhor para os filhos, o que leva a família a pensar que sabe mais do que o profissional da área?

Se, por essa ou aquela razão, a escola não correspondeu ao que o pai esperava, não seria mais coerente mudar de escola, em vez de tentar mudar a escola? E, como profissionais que seguramente também são em outras áreas de estudo, aceitariam ingerências semelhantes? Talvez por trás dessa postura exista a concepção de que as empresas devem agradar a seus clientes. Agir visando fidelizar o cliente seria perfeito–e até mais fácil – caso escola fosse butique! Vender saia mini e, na próxima estação, as de comprimento Chanel pode fazer o cliente feliz. Escolas, porém, vendem outro tipo de produto. É onde se forjam habilidades e competências. E as de qualidade primam por ter profissionais especializados e experientes. É bom nos lembrarmos disso quando o coração palpitar por conta de ideias costuradas com a linha do amor. Elas podem não ser as mais adequadas à educação século XXI!

(*) Filósofa, Mestre em Educação, Autora de Educar sem Culpa.